Esses dias eu estava conversando com uma amiga que disse que iria mudar algumas coisas que não estava gostando na vida dela, ia ter mais atitude e tal. Alguns dias depois ela me conta que iria sair e esta seria oportunidade perfeita; ela estava decidida, quando ligaram desmarcando. Assim, antes que ela pudesse tomar qualquer atitude, antes que ela sequer tentasse. E ela me pergunta:
- Será que é um sinal?
Não, flor. Não é um sinal. Sabe por quê? Porque quem interpreta os sinais somos nós, e nós damos a ele a interpretação que queremos.
Esses dias eu vi um filme que mostrava mais ou menos isso. Perdemos tanto tempo procurando sinais em detalhes infinitamente pequenos, fazemos interpretações malucas e com isso não enxergamos o óbvio, o que está na nossa frente. Interpretamos gestos simples como se fossem a explicação para todas as verdades. E assim, ele te puxar no MSN é sinal de que ele gosta de você, sua chefe não falar olhando pra você é um sinal que ela não te suporta e uma amiga não contar nos mínimos detalhes como foi o final de semana dela quer dizer que ela está brava com alguma coisa que você fez. Enquanto isso, não percebemos que ele só puxou porque estava entediado e deixou você falando sozinha; sua chefe te ama mas sempre faz duas coisas ao mesmo tempo, do tipo assina e dá ordens; sua amiga dormiu mal e acordou com um péssimo humor, mas ainda assim tentou te contar os últimos dias. Isso me lembra de uma frase de Clarisse Lispector que diz que “o óbvio é a verdade mais difícil de enxergar”. E é fato: nos preocupamos procurando sinais dos mais sutis, para não dizer esdrúxulos; e perdemos de ver o que está na nossa cara.
Sim, eu sei o quão divertido é procurar sinais, como tentar entender os detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que é neles que encontramos as coisas mais bonitas, mais divertidas – e normalmente percebemos muito, muito depois. Mas é diferente, não é disso que eu to falando; não é quando tentamos entender o que está acontecendo, não é nos ater aos detalhes. O problema é quando inventamos interpretações que só tem lógica pra gente e, pior, aquelas que nem a gente mesmo acredita, mas que sai falando por aí, tentando se convencer e convencer aos outros. E aí, seguimos o que pensamos ser um sinal e quebramos a cara. E ainda por cima ficamos repetindo pra nós mesmos: mas e aquele sinal? Ele dizia que eu tinha que fazer isso!
Não, os sinais não dizem nada; nós dizemos. E fazemos. Mas por que achamos que são os sinais que devem guiar nossa vida? Por que não assumir as nossas vontades, os nossos medos, as nossas dificuldades? Penso que é porque é mais fácil, é como jogar adiante às nossas decisões; que se dão certo, ótimo! Caso contrário... ah, mas não fui eu que decidi. O sinal que veio errado; o máximo de culpa que eu tenho é por não ter interpretado um segundo sinal, que agora é fácil de ver.
Por isso, ao invés de procurar sinais, penso que precisamos procurar explicações. Às vezes é muito sutil a diferença entre esses dois; por isso é preciso ter cuidado. É preciso saber diferenciar o que é nosso do que está acontecendo; é preciso saber assumir a nossa forma de ver o mundo.
Quando minha amiga disse isso, sei que era brincadeira. Porque brincamos muito com esse tipo de coisa; eu sempre digo que tal ou qual coisa é um sinal, mas minha concepção de sinal é muito diferente: os sinais são a desculpa que precisamos pra fazer o que queremos, ou o que achamos que temos que fazer. Por isso, acho que se você quiser seguir um sinal tudo bem, faça-o! Mas sabendo que a decisão foi sua.
Liv Tequila.
P.s.: O filme que assisti se chama “Ele não está tão a fim de você”, e foi recomendado inicialmente por uma dazamigas; eu simplesmente amei o filme. Não sou de seguir conselhos de auto-ajuda, mas de uma forma deliciosa ele nos ensina como devemos parar de procurar desculpas e justificativas pros outros, e também como procuramos em cada vírgula sinais do que queremos – e isso não precisa ser só sobre nossas relações com os homens, pode muito bem ser estendida à toda a nossa vida.
Liv diz: "os sinais são a desculpa que precisamos pra fazer o que queremos, ou o que achamos que temos que fazer"
ResponderExcluirrealmente, vemos o que queremos ver e não o que esta acontecendo, o real. A interpretação é de cada um, claro, mas saber o que esta mesmo acontecendo é bem melhor (porem, creio eu não sr tão simples assim) que acreditar numa ideia que parece ter mais sentido, mas não o é.
Gostei do post. Sempre com ótimas palavras e tornando o assunto mais suave.
Bjão
Fabi